sexta-feira, 12 de junho de 2009

Fim da Viagem...

Compartilho aqui um texto que li lá na escrivaninha do Marco.

Me tocou profundamente o coração,e espero que toque também o seu.

Fim da viagem


Peguei um ônibus pra um lugar que eu nunca tinha ido. A pessoa que me chamou deu indicações sobre aonde eu teria de descer. Disse para eu ficar muito atento na janela. Disse que a partir do momento em que a paisagem estivesse ficando mais violenta, com guerras e rumores de guerras, com fome, com pessoas gritando "paz, paz" mas com tiros atrás de si, com desastres naturais, com gente correndo de um lado para outro atrás de conhecimento, com união de velhos inimigos e coisas assim, era melhor que eu não pegasse no sono, Ficasse de pé, perto da porta, porque ela se abriria de repente, e seria minha única chance de descer no ponto certo.

Lá fui eu. Estava dando um sono danado, mas olhando pela janela percebi que a coisa estava mais pesada do que há algum tempo. Vi uns católicos e uns luteranos apertando as mãos sorridentes e assinando um papel muito curioso. Vi um avião cheinho caindo no mar. Vi um maluco com uma metralhadora entrando num cinema. Vi uma penca de amigos meus sendo seqüestrados. Vi uma correria danada de gente atrás do padre Marcelo, outras atrás do Pr Caio Fábio, outras atrás do pr. Bullon, ou do pr. Mark Finley, e também vi gente muito compenetrada tentando entender a Bíblia ao lado de gente jogando búzios, consultando espíritos, lendo o livro dos mórmons. Em volta havia muita gente rindo pra televisão enquanto a Tiazinha rebolava e o Faustão fazia uma emocionada entrevista com a Xuxa.

Vi que havia uma porção de gente jogando futebol por salários estratosféricos, fazendo gol de mão, ganhando jogos nos tribunais esportivos, dando cotovelada no adversário enquanto a torcida quebrava as cabeças uns dos outros. O mesmo acontecia na quadra de basquete que passava e na quadra de vôlei. Vi que as pessoas na rua pareciam todas angustiadas, que muita gente só parecia querer tirar vantagem de tudo, e políticos com aparecia de piedade mas
negando sua eficácia. Vi índios se suicidando, meninas grávidas, meninas prostitutas, meninos assassinos na Febem, meninos assassinados embaixo das pontes. Vi os Estados Unidos entorpecidos com o sucesso e com a abastância enquanto adolescentes levavam bombas pra escola. Vi massacre no Timor Leste. Vi chacina na periferia. Vi divórcio e desamor. Vi festa de aniversário pra cachorro, vi homem cortando a mão pra ganhar seguro, vi que não havia afeto.

Vi que não havia esperança nos olhos das pessoas.

Em meio a tudo isso o sono ainda era muito grande, a vontade de me acomodar também, o banco estava gostoso, o ônibus roncava suave. Mas eu lembrei do que a pessoa que me havia chamado dissera. Então eu levantei e fiquei de olho na porta. Como eu conhecia essa pessoa, sabia que quando a porta se abrisse, o lugar seria muito lindo, distante daquelas visões paradoxais que me deixavam perplexo e triste. Ela estaria lá no ponto me esperando. E eu não queria perder o ponto por nada.


Marco Aurélio Brasil Lima

Não se deixe levar pelo sono da indiferença, pela barreira das placas, pelo preconceito e outras coisas que, para não desarmonizar a cena, deixamos passar nos tornamos sonolentos, inofensivos e incapazes de cumprir o chamado precioso que recebemos.
ACOOOOOORDA!!!!!!

Bom final de semana pessoal !

Um comentário:

  1. Olá Creuza,

    Gostei de conhecer o seu blog. O pessoal do vídeo da postagem anterior é da minha cidade, são muito criativos. Obrigado pela visita ao meu blog.

    Graça e Paz.

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