terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não quero me acostumar! Quero mudanças!

Hoje eu tô inspirada ....

Então, dois post num dia só pra tirar o atraso... kkkkk

Comecei o ano muito questionadora, crítica mesmo, numa de anti-conformismo total, onde isso me levará eu não sei, até que este comichão não é ruim, e espero com todo o meu ser que as mudanças necessárias cheguem, porque apesar de incomodar as mudanças são sempre bem vindas!

Falei isso tudo pra poder compartilhar com vocês meus fiéis leitores este texto da Marina Colassante me fez rir, pensar e deixar pra lá ... na época deu uma preguiça.... mas hoje estou decidida a não me acostumar.
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Eu sei, mas não devia
(Marina Colasanti)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.
E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer fila para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagar mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes.
A abrir as revistas e ver anúncios.
A ligar a televisão e assistir a comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

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Não quero me acostumar.
Preciso de mudanças!

Um comentário:

  1. Lindona...
    Texto fabuloso, quanto ao fato de "entrar o ano de maneira crítica"... Posso discordar?
    Você é crítica desde que te conheço e isso faz parte da sua personalidade, estou falando isso com certeza, até porque eu sou assim também...
    Sinceramente não considero o fato de ser uma pessoa crítica, ruim, até porque não tenho por hábito criticar a tudo e a todos sem usar de bom senso e sem ponderação sobre determinadas situações... Acho portanto, super válido a liberdade de questionar sobre o que não entendo ou não aceito, mas essa, é minha modesta opinião!!
    O texto que vc colocou que fala tão claramente sobre a questão do comodismo, é uma maneira de se ver as coisas... Pode ser avaliado também como um ponto de vista... Mas serve de exemplo para que possamos refletir sobre a questão... Até que ponto ficamos apáticos diantes de coisas tão corriqueiras que nós mesmos somos os únicos que podemos mudar? Entra a questão das escolhas, e isso, cada um tem a sua, né?
    Se vc sente que pode mudar e quer fazer isso, vá em frente menina... A sua vida é vc quem faz!
    Bjkas TE ADOLO!!!!!

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