sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Férias, vocabulário e outros assuntos...

Estou de férias!
Merecidas, é verdade. precisava muito descansar, desligar, desopilar ...


Os últimos quinze dias de setembro foram terríveis, não sei se pelo cansaço acumulado ou se pela pressão de não deixar nada pendente para minha equipe, no fim  deu tudo certo e cá estou eu , tendo tempo para não fazer nada. :) sem grana, é verdade, mas com as contas pagas a cabeça ao menos descansa dete assunto. triste é que me pego pensando em como vão as coisas lá no trabalho.... pode isso?



Sobre palavras...


Léxico poderia ser definido como o acervo de palavras de um determinado idioma. Em outras palavras, é todo o conjunto de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito. Podemos dizer que uma característica básica do léxico é sua mutabilidade, já que ele está em constante movimento. É só notarmos o fato de que palavras se tornam arcaicas, outras são incorporadas, outras mudam seu sentido, e, tudo isso ocorre de forma gradual e quase imperceptível. O sistema léxico de uma língua traduz a experiência cultural acumulada por uma sociedade através do tempo, ou seja, o léxico pode ser considerado como o patrimônio vocabular de uma comunidade lingüística através de sua história, um acervo que é transmitido de uma geração para a geração seguinte. O usuário da língua utiliza o léxico, esse inventário aberto de palavras disponíveis no seu idioma, para a formação do seu vocabulário, para sua própria expressão no momento da fala e para a efetivação do processo comunicativo. Assim, o vocabulário de um indivíduo caracteriza-se pela seleção e pelos empregos pessoais que ele faz do léxico. Quanto maior for o vocabulário do usuário, maior a possibilidade de escolha da palavra mais adequada ao seu intento expressivo.

Depois desta explicação leia o  aconteceu comigo.  Tem gente que acha que eu falo dificil para aparecer, outros acham normalíssimo  uma vez que sempre sou vista em companhia de um livro. ocorre que na minha ultima sessão de terapia, ( sim eu faço terapia !) , utilizei uma palavra que para mim é comum e me surpreendi com a expressão do psicólogo, (Prometo falar um pouquinho dele aqui outra hora), que não conhecia a palavra, sorri comigo, ahá ele não conhece esta palavra , na continuidade dei um sinonimo , mas não era o sinônimo correto, mas ainda assim complementava o assunto.  eu sabia disso , e  é ai que mora a questão,  fiquei remoendo a conversa e encontrando outras palavras que poderia ter usado sem passar por metida a intectual.  um dia eu aprendo a ser mais simples, ah se aprendo...


Segue abaixo uma crônica de Drummond, este iluste brasileiro, que colaborou para acomposição do noso léxico. Nesta crônica ele emprega a palavra que utilizei, te desafio a descobrir qual.



O trocador olhou, viu, não aprovou. Daquele passageiro, escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água que ia compondo, no piso do ônibus, a microfigura de uma piscina.

- Ei, moço, quer fazer o favor de levantar?

O moço (pois ostentava barba e cabeleira amazônica, sinais indiscutíveis de mocidade), nem-te-ligo.

O trocador esfregou as mãos no rosto, em gesto de enfado e desânimo, diante de situação tantas vezes enfrentada, e murmurou:

- Estes caras são de morte.

Devia estar pensando: todo ano a mesma coisa. Chegando o verão, chegam os problemas. Bem disse o Dario, quando fazia gol no Atlético: problemática demais. Estava cansado de advertir passageiros que não aprendem viajar no coletivo. Não aprendem e não querem aprender. Tendocomprado passagem por 65 centavos, acham que compraram o ônibus e podem fazer dele casa-da-peste. Mas insistiu:

- Moço! O moço!

Nada. Dormia? Olhos abertos, pernas cabeludas, ocupando cada vez mais espaço, ouvia e não respondia. Era preciso tomar providência.

- O senhor aí, cavalheiro, quer cutucar o braço do distinto, pra ele me prestar atenção?

O cavalheiro, vê lá se ia se meter numa dessas. Ignorou, olímpico, a marcha do caso terrestre.

Embora sem surpresa, o cobrador coçou a cabeça. Sabia de experiência própria que passageiro nenhum quer entrar numa fria. Ficam de camarote, espiando o circo pegar fogo. Teve pois que sair de seu trono, pobre trono de trocador, fazendo a difícil ginástica de sempre. Bateu no ombro do rapaz:

- Vamos levantar?

O outro mal olhou para ele, do longe de sua distância espiritual. Insistiu:

- Como é, não levanta?

- Estou bem aqui.

- Eu sei, mas é preciso levantar.

- Levantar pra quê?

- Pra que, não. Por quê. Seu calção está molhado de água do mar.

- Tem certeza que é água do mar?

- Tá na cara.

- Como tá na cara? Analisou?

Ferrou-se de paciência para responder:

- Olha, o senhor está de calção de banho, o senhor veio da praia, que água pode essa que está pingando se não for água do mar? Só se...

- Se o quê?

- Nada.

- Vamos, diz o que pensou.

- Não pensei nada. Digo que o senhor tem que levantar porque seu calção está ensopado e vai fazendo uma lagoa aí embaixo.

- E daí?

- Daí, que é proibido.

- Proibido suar?

- Claro que não.

- Pois eu estou suando, sabe? Não posso suar sentado, com esse calorão de janeiro? Tenho que suar de pé?

- Nunca vi suar tanto na minha vida. Desculpe, mas a portaria não permite.

- Que portaria?

- Aquela pregada ali, não está vendo? "O passageiro, ainda que com roupa sobre as vestes de banho molhadas, somente poderá viajar de pé."

- Portaria nenhuma diz que passageiro suado tem que viajar de pé. Papo findo, tá bom?

- O senhor está desrespeitando a portaria e eu tenho que convidar o senhor a descer do ônibus.

- Eu, descer porque estou suado? Sem essa.

- O ônibus vai parar e eu chamo a polícia.

- A polícia vai me prender porque estou suando?

- Vai botar o senhor pra fora porque é um... recalcitrante.

O passageiro pulou, transfigurado: - O quê? Repita, se for capaz.

- Re... calcitrante.

- Te quebro a cara, ouviu? Não admito que ninguém me insulte!

- Eu? Não insultei.

- Insultou, sim. Me chamou de réu. Réu não sei o quê, calcitrante, sei lá o que é isso. Retira a expressão, ou lá vai bolacha.

- Mas é a portaria! A portaria é que diz que o recalcitrante...

- Não tenho nada com a portaria. Tenho é com você, seu cretino. Retira já a expressão, ou...

Retira, não retira, o ônibus chegou ao meu destino e eu paro infalivelmente no meu destino. Fiquei sem saber que conseqüências físicas e outras teve o emprego da palavra "recalcitrante".

Fonte:
ANDRADE, Carlos Drummond de- De Notícias & Não-Notícias Faz-se a Crônica -RJ: José Olympio, 1975.

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